03/05/2019 – 05:00
Por Claudia Safatle
O impacto da reconfiguração global da indústria farmacêutica, que migra para a produção de medicamentos inovadores caros e abandona os genéricos baratos, começa a ser sentido no Brasil. Representantes da indústria nacional e do governo iniciaram conversas com o BNDES para que o banco financie a expansão da produção local de medicamentos mais baratos, de amplo espectro e fabricação em grande escala. O presidente do banco, Joaquim Levy, manifestou interesse e disse que “a saúde do brasileiro é prioridade da instituição”.
A reorientação global das operações no setor e o fim da política de concessão de subsídios fartos, no Brasil, estão na raiz da decisão de duas gigantes farmacêuticas de encerrar suas atividades no país. A americana Eli Lilly e a suíça Roche já anunciaram que estão parando de produzir no Brasil. Elas devem levar suas fábricas para países com mais incentivos fiscais e de mão de obra qualificada, além de melhor infraestrutura, como Espanha e Portugal.
A discussão, no mundo, é sobre eventual desabastecimento de medicamentos baratos e de amplo alcance, como a
penicilina. Enquanto isso, são elevadíssimos os preços cobrados pelas empresas globais por remédios para doenças raras e contra o câncer. Por exemplo, uma ampola de Spinraza, único tratamento para a Atrofia Muscular Espinhal (AME), doença genética que paralisa bebês, custa cerca de R$ 218 mil para o governo brasileiro. O tratamento requer seis doses no primeiro ano e três doses anuais pelo resto da vida do paciente. Só governos conseguem pagar esses preços.
O assunto vem sendo objeto de discussão na própria Organização Mundial de Saúde (OMS), que promoveu eventos na Holanda e na África do Sul sobre o preço justo (“fair pricing”). O valor justo, no caso da indústria farmacêutica, seria aquele que é acessível para os sistemas de saúde e também para os pacientes e que, ao mesmo tempo, fornece incentivos de mercado suficientes para a indústria investir em inovação e produção.
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