08/05/2019 – 05:00
Por Stella Fontes
Cansada da queda de braço constante com os planos de saúde em torno dos custos dos medicamentos e da incorporação de novos tratamentos ao sistema, a indústria farmacêutica encomendou um estudo para medir o peso que, de fato, os remédios têm nos gastos da saúde suplementar no Brasil. Conduzido pela IQVIA, que audita as vendas do setor em todo o mundo e é um dos nomes mais respeitados na área, o levantamento recém-lançado mostra que esses gastos representam apenas 6,6% do total desembolsado anualmente e não são os grandes vilões da inflação da saúde suplementar.
Ou seja, frente a um dispêndio anual de R$ 190,5 bilhões dos planos de saúde, R$ 12,7 bilhões dizem respeito a medicamentos. Ao mesmo tempo, conforme o estudo “As Novas Tecnologias e a Saúde Suplementar”, o desperdício com fraudes e exames considerados desnecessários chega a R$ 36,6 bilhões por ano, equivalente a 19,2% do gasto total. A maior parte dos dados usados no levantamento é de 2014 a 2017, mas há alguns recortes que consideram o intervalo de 2013 a 2018.
“A indústria farmacêutica é um dos fornecedores e se sente injustiçada. Há muito tempo o reajuste dos medicamentos fica abaixo da inflação, enquanto o dos planos fica acima”, diz o diretor de Acesso e Assuntos Econômicos da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Pedro Bernardo. Entre 2005 e 2018, segundo a entidade que reúne as multinacionais do setor, o reajuste dos medicamentos foi de 86,99%. No mesmo período, a inflação foi de 118,84%, quase 32 pontos percentuais a mais.
De acordo com Bernardo, o estudo retrata a real responsabilidade da indústria farmacêutica nos gastos dos planos e, na verdade, o peso dos medicamentos deveria ser maior – isso ocorreria naturalmente se mais tecnologias inovadoras fossem incorporadas, observa o executivo. “Queremos mostrar que não é dificultando a incorporação de novos tratamentos que haverá melhora do equilíbrio financeiro dos planos”, afirma.
O estudo mostra ainda que o número de pessoas atendidas pelos planos caiu 5,8% entre 2014 e 2017, para 47,2 milhões, na esteira da crise econômica e do desemprego. Houve mudança no perfil dos beneficiários, com redução entre o público mais jovem e crescimento do total de idosos. Com isso, muda também a demanda, uma vez que idade é fator de risco: nesse intervalo, houve aumento de 10,9% para os procedimentos de assistência médico-hospitalar, para 1,3 bilhão por ano, e de 17,8% dos procedimentos por paciente, para 28,1% por ano. “A solução passa por todos os setores terem transparência em seus números, para que a sociedade entenda onde está o problema”, diz Bernardo.
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