03/06/2019 – Forbes |
Jornalista:
O Laboratório Cristália surgiu de uma forma diferente para uma empresa do meio farmacêutico. No final dos anos 1960, Ogari Pacheco, médi- co-cirurgião formado pela Universidade de São Paulo (USP), geria um hospital de referência voltado à psiquiatria, em Itapi- ra (SP). “Nós já estávamos com um tamanho grande e tínhamos um público cativo. Medicamento era um dos principais custos do hospital: por que não produzir?” lembra o executivo. Dessa forma, nascia o Cristália, em 1972 (o nome remete à antiga pousada que havia no local).
No início, o foco estava apenas em medicamentos de psiquiatria. Até que a produção passou a superar o consumo interno e, por uma questão de logística (ninguém do grupo tinha muita experiência na área de vendas), a empresa começou a participar de licitações públicas, uma forma eficiente de escoar o excedente e, por que não, uma nova opção de lucro.
“Se eu não tinha nenhuma formação ou experiência comercial, tinha vivência de hospital. Criar uma linha de produção voltada às necessidades dele era óbvio – foi o que fizemos”, conta. O negócio prosperou, e Pacheco deixou a administração do hospital para cuidar só do laboratório. Poucos anos depois, a produção se expandiu para as áreas de anestesia e narcoanestesia. Hoje, elas são o carro-chefe do Cristália, principal produtor de anestésicos na América Latina. “Somos responsáveis pelo abastecimento de 95% dos hospitais brasileiros com esse tipo de medicamento”, relata o cofundador.
Na década seguinte, em 1983, o Cristália deu outro salto na sua trajetória, que até hoje o destaca em relação às produtoras de medicamento no Brasil: inaugurou a área de farmoquímica. “A indústria farmacêutica brasileira também produz quase tudo o que há no mundo, mas à custa da importação dos princípios ativos, que são a essência do medicamento.” Segundo o executivo, mais de 90% dos princípios ativos são importados no país. “É como montar uma casa de pão de queijo sem queijo.” O Cristália adotou o caminho oposto: começou a produzir seus princípios ativos e, na contramão do mercado, 53% dos seus medicamentos hoje têm base própria. Isso abriu um novo mercado para a farmacêutica: além de conseguir criar uma logística que lhe permitisse mais segurança, agilidade e qualidade (afinal, é responsável pela produção), criou uma nova maneira de lucrar. Hoje, a empresa é dona de 107 patentes na área, com exportação para o exterior.
“É a nossa menina dos olhos”, afirma Pacheco, com orgulho. O negócio tem funcionado tão bem que, neste meio de 2019, o Cristália está inaugurando uma produção farmoquímica voltada exclusivamente à oncologia, especialidade médica que lida com o câncer. A produção já foi iniciada no Complexo Industrial de Itapira e, dada sua complexidade, precisa de uma série de medidas de segurança, como trocar o ar interno da fábrica a cada minuto. Tamanho investimento, não divulgado, tem sua razão de ser: 100% dos princípios ativos de medicamentos oncológicos produzidos no Brasil são importados. O objetivo é quebrar esse paradigma.
As propostas ousadas têm dado resultado. A empresa não para de crescer: fechou 2018 com o recorde de 5.500 funcionários e faturamento na casa dos R$ 2 bilhões. Pacheco, no entanto, vê a situação atual do Brasil com cautela. “É como fazer uma travessia em um mar revolto, num barco pequeno e cheio de gente. Estamos em um país que está enfrentando dificuldades, mas, se o barco afundar, todo mundo afunda.” Da sua parte, ele diz contribuir com a formação de empregos e o estímulo à economia.
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