30/07/2019
Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de erradicação do sarampo. Faz apenas três anos, mas parece bem mais. A julgar pelos números do Ministério da Saúde, o avanço da doença é uma realidade, tornando-se preocupação extra para autoridades de saúde dos três níveis de governo, já às voltas com recorrentes epidemias de dengue, zika e chicungunha que sobrecarregam unidades de saúde.
Até 17 de julho, haviam sido confirmados 426 casos — outros 810 estavam sob investigação — em sete estados. Por enquanto, o que mais preocupa é São Paulo, com 350, ou 82% do total. Desde 7 de junho, as notificações dispararam 850% no estado. Na lista do ministério, chamam atenção ainda Pará (53 casos), Rio de Janeiro (11), Amazonas (4), Minas Gerais (4), Santa Catarina (3) e Roraima (1).
O certificado da Opas começou a ser rasgado ainda em 2018, quando o vírus reapareceu com força no Brasil. A reentrada aconteceu a partir da Venezuela, convulsionada por grave crise econômica, social e política — a saúde não escapou à debacle do governo Maduro. Os primeiros surtos foram registrados em Roraima e Amazonas, e não demorou para que a doença avançasse.
Este não é um fenômeno que atormenta apenas o Brasil. Estados Unidos e países da Europa também enfrentam surtos de sarampo. Mas não há outra forma de conter o avanço da doença, que se propaga rapidamente, a não ser a vacinação.
Porém, este é outro problema, e não diz respeito somente ao sarampo. Nos últimos anos, os índices de vacinação no Brasil têm sido baixíssimos. São Paulo, por exemplo, que fez um Dia D contra o sarampo voltado a jovens de 15 a 29 anos, conseguiu imunizar apenas 6% do público-alvo.
Não importa se esse comportamento avesso a doses que salvam vidas decorre de campanhas antivacina ou divulgação de fake news nas redes sociais — por exemplo, dando conta de que elas são ineficazes ou podem até matar. A verdade é que a doença só será contida quando a população estiver protegida — especialistas recomendam índice de vacinação de 95%. E, para isso, não adianta disponibilizar doses nos postos e esperar que as pessoas compareçam. A realidade mostra que não funciona.