Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo
Odnir Finotti, presidente-executivo da Bionovis, participou do processo de criação do superlaboratório, que vai começar a produzir medicamentos biológicos
A Bionovis, a recém-criada "superfarmacêutica" nacional para produzir e desenvolver medicamentos biológicos, está prestes a tomar duas decisões importantes que deverão definir os rumos da nova companhia, que terá investimentos de R$ 500 milhões. A primeira, de ordem prática, é a definição do local onde a fábrica será instalada. A segunda, considerada mais estratégica, será a assinatura de dois contratos de transferência de tecnologia para dar início às operações do laboratório no país.
A nova companhia, cujos acionistas são as farmacêuticas Aché, EMS e União Química, além da Hypermarcas - cada um com 25% de participação-, tem o governo federal como importante aliado. Como principal comprador dos medicamentos produzidos pelo superlaboratório, o governo vê nessa iniciativa a possibilidade de reduzir o bilionário déficit da balança comercial da saúde, que em 2011 atingiu US$ 11 bilhões.
Em entrevista ao Valor, Odnir Finotti, presidente da empresa, deu detalhes de como a Bionovis está sendo estruturada para se tornar uma importante ferramenta na produção de medicamentos biológicos (desenvolvidos a partir de células vivas) no país para tratamentos considerados complexos, como câncer e doenças imunológicas (casos da artrite reumatoide e esquizofrenia, por exemplo), e competir com multinacionais.
Finotti afirmou que a fábrica da Bionovis está sendo disputada por três Estados - São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A Ilha do Fundão, no Rio, com concentração de centros tecnológicos, está bem cotada. "Vamos definir a localização nas próximas semanas."
Outro movimento importante é a assinatura nos próximos dias de dois contratos de transferência de tecnologia de medicamentos em parceria com asiáticos, especialistas em biossimilares. O primeiro é para o Etanercepte (produto de referência Enbrel), cuja patente venceu este ano. "Esse é o medicamento [para artrite e psoríase] de maior custo individual para o governo, que gasta R$ 30 mil por ano para cada paciente", disse Finotti. O segundo é para produzir no país o Rituximabe (referência MabThera), que combate câncer (linfoma não-Hodgkin). Esses dois produtos fazem parte de um grupo de sete que a Bionovis planeja produzir no Brasil. Como são "cópias" de produtos que perderam a patente, são chamados biossimilares.
O anúncio da Bionovis aconteceu no fim de março, mas as discussões para a criação de uma superfarmacêutica nacional começaram em 2010. A ideia original era juntar oito grupos nacionais. Além dos quatro que criaram a Bionovis, participavam das discussões a Biolab, Cristália, Eurofarma e Libbs. Essas quatro companhias decidiram criar uma nova empresa, também classificada como superfarmacêutica, chamada de Orygen Biotecnologia, que está prestes a ser oficializada e desenvolverá medicamentos biológicos.
"Em uma conversa com a presidente Dilma [Rousseff], ela foi categórica. Não admite que os superlaboratórios sejam vendidos para companhia estrangeiras", disse Finotti. Essa imposição foi uma clara referência à CanaVialis, empresa nacional de biotecnologia voltada para o agronegócio, que teve forte apoio financeiro do governo, mas que passou para as mãos da americana Monsanto.
No acordo de acionistas da Bionovis, está previsto que se uma das quatro companhias forem negociadas para alguma multinacional, as outras três terão direito de preferência para comprar os 25% da que está saindo. Caso optem por um novo sócio, a exigência é que seja de capital nacional. Cada acionista tem dois membros no conselho de administração.
Dos R$ 500 milhões previstos para investimento, cerca de R$ 150 milhões serão destinados para a construção da fábrica e sua validação (certificações). O restante será para pesquisa e desenvolvimento (P&D) de medicamentos e estudos clínicos, etapa considerada uma das mais caras do processo. Na primeira fase, os próprios acionistas vão aportar os recursos, explicou Finotti. O BNDES vai financiar parte do projeto de expansão dessa companhia. O executivo informou que a empresa não descarta abrir capital no futuro para levantar recursos para manter sua expansão.
A expectativa é de que a fábrica fique pronta em 2013 e o primeiro medicamento seja colocado no mercado entre 2015 e 2016. "Não vamos fazer somente biossimilares. Vamos começar a desenvolver medicamentos biológicos próprios", disse Finotti. Com os biossimilares, por meio de transferência de tecnologia, a Bionovis "ganha" uma década. "Se fôssemos sair do zero, demoraríamos no mínimo dez anos para desenvolver um produto", disse. "Para esses dois medicamentos que faremos a transferência de tecnologia, já estamos na fase de pré-registros."
A expectativa de receita líquida para o primeiro ano de operação da Bionovis é de R$ 500 milhões - e poderá atingir R$ 1,5 bilhão quando os sete estiverem prontos. "Nossa meta é brigarmos pelo topo no ranking dos maiores laboratórios do país", afirmou Finotti.
Para montar a "inteligência" de P&D da Bionovis, serão contratados 50 pessoas. Uma parte vai ser "importada" e repatriada, afirmou Finotti. Neste primeiro ano, serão 15 contratações. "Vamos trazer cientistas dos Estados Unidos."
A Bionovis conta hoje com cinco pessoas. Além de Finotti, que participou da "gestação" da companhia, foram contratados o cientista argentino Carlos Melo, um dos pioneiros no desenvolvimento de biológicos na América Latina, como diretor operacional. Melo estava no Aché e para não ter conflito de interesse entre Bionovis e um de seus acionistas, ele teve que se desligar da companhia. Fernando Tunes, ex-EMS, será responsável por assuntos regulatórios; Renato Faro, também ex-Aché, responderá pelo P&D, e Tiago Reno, ex-Hypermarcas, como diretor médico.
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