19 Fevereiro 2019 | 04h00
RIO – O comércio varejista ainda tem um longo caminho até recuperar as perdas acumuladas no período de crise do setor, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
Embora as vendas tenham crescido 2,3% em 2018, conforme apurado pela Pesquisa Mensal de Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o varejo só retorna ao patamar máximo de vendas – alcançado em outubro de 2014 – em fevereiro de 2020. O cálculo da CNC leva em consideração um crescimento mensal equivalente à média dos últimos 15 anos, que no caso do varejo restrito foi de 0,36% ao mês.
A situação é mais complicada para o varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção. As vendas só voltam ao pico atingido em agosto de 2012 daqui a mais de dois anos: em maio de 2021. A projeção considera o crescimento médio mensal de 0,37% obtido pelo varejo ampliado nos últimos 15 anos.
Nos dois casos, a melhora será puxada pelos segmentos que vendem bens essenciais, como supermercados e farmácias. As vendas de artigos farmacêuticos já retornaram ao melhor desempenho da série, enquanto o volume vendido pelo setor de supermercados está apenas 1,1% abaixo do ponto mais alto já alcançado, mas o segmento só retorna ao topo de vendas em junho de 2020.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) reconhece que 2018 frustrou as expectativas, embora o setor tenha registrado o melhor desempenho desde 2015. A projeção da entidade é de que a retomada mesmo nas vendas ocorra em 2020, apesar da estimativa de uma alta de 3,0% nas vendas do setor supermercadista em 2019.
“Quando a situação financeira está ruim, as famílias destinam a renda para o consumo de itens básicos. Quando a situação começa a melhorar, aí o cenário se inverte. As famílias não vão almoçar duas vezes, então talvez troquem de carro”, explicou Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC, responsável pelo estudo.
Apesar do crescimento robusto de 15,1% no ano passado, a atividade de veículos e motos, partes e peças só retorna em outubro de 2025 ao patamar de vendas alcançado no pico da série histórica. O segmento de vestuário e calçados voltará ao ponto mais alto das vendas apenas em setembro de 2025.
O diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), Edmundo Lima, diz que acredita num futuro de crescimento, ainda que antevendo um cenário bastante conservador, a depender das reformas a serem efetuadas pelo novo governo e a equalização das questões econômicas e políticas. “A perspectiva favorável se mantém nos próximos meses ao varejo de moda”, afirmou Lima. “A ABVTEX não faz projeções, mas acredita que o gradativo resgate do nível de confiança do consumidor brasileiro pode ter impacto nas vendas de 2019. Mas há pontos de atenção a considerar como o alto nível de desemprego e a informalidade, um dos maiores concorrentes do varejo de moda e de diversos setores econômicos, que gera concorrência desleal com a economia formal”, reclamou Lima.
Por conta das perdas excessivas nos últimos anos e da lentidão no processo de recuperação, não foi possível prever quando os segmentos de livraria e papelaria e de combustíveis e lubrificantes voltariam ao pico de vendas.
No ano passado, o volume vendido de livros e papelaria recuaram 14,7%, enquanto combustíveis encolheram 5,0%.
Segundo a CNC, o varejo ampliado conseguiu recuperar apenas 45% do que foi perdido desde o ápice nas vendas até o ponto mais baixo, atingido em setembro de 2016, em meio à recessão econômica. “Ainda não chegou na metade do caminho. Ou seja, ainda há 55% do volume de vendas perdido a ser recuperado”, lembrou Bentes, acrescentando que, conforme a base de comparação for melhorando, sustentar um ritmo de crescimento mais vigoroso será um desafio maior.
No entanto, as previsões da CNC consideram que após tantos anos de perdas há uma demanda reprimida por bens não essenciais, o que ajudará o desempenho do comércio varejista a retomar seu ápice nos próximos anos. “Para 2019, a gente espera que tenha um espaço maior para uma recuperação, se o mercado de trabalho mostrar uma maior geração de vagas e houver redução de incertezas no cenário político e econômico. Com a atividade econômica se recuperando, é possível que o crescimento do varejo este ano seja um pouco melhor que o de 2018, mas não deve ser extraordinário”, previu Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
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