Os primeiros anticorpos monoclonais foram descritos em artigo publicado pela revista Nature na década de 1970, dando aos seus autores, o argentino César Milstein e o alemão Georges Köhler, o prêmio Nobel de Medicina cerca de dez anos depois. Trata-se de uma proteína recombinante construída para atuar especificamente na célula doente, bloqueando algum alvo ou estimulando o próprio sistema imunológico a combater a doença, causando menos efeitos adversos nos pacientes. É produzido em laboratório a partir de um clone, por isso é chamado monoclonal. “Essa busca terapêutica é por um medicamento que trate, permita a remissão da doença ou cure sem provocar danos em outras células ou órgãos”, garante a farmacêutica bioquímica Márcia Martini Bueno, membro do Conselho do Grupo Farma Brasil e diretora de Relações Institucionais da Libbs, empresa de capital privado, 100% nacional. Nesta entrevista ela conta, ainda, sobre os planos da primeira planta para produção de anticorpos monoclonais em escala industrial e outras tecnologias no país, a Biotec. Um tipo de planta industrial que ainda é uma carência em todo o mundo e que deve ampliar o acesso aos anticorpos monoclonais no Brasil, ajudar a reduzir os preços pelo aumento da concorrência e trazer conhecimento tecnológico para aplicação de medicamentos biossimilares. Saiba mais.
Anticorpos são proteínas produzidas no nosso organismo que ajudam o sistema imunológico a combater vírus, bactérias, câncer e outras doenças. Com o avanço da biotecnologia, se tornou possível produzir em laboratório essas proteínas recombinantes originárias de um clone, chamadas de anticorpos monoclonais. Os anticorpos monoclonais atuam em receptores específicos e, por essa razão, produzem menos eventos adversos quando comparadas com moléculas sintéticas, como por exemplo os quimioterápicos usados no tratamento do câncer.
Atualmente temos muitos anticorpos monoclonais com indicações para diferentes áreas terapêuticas, como câncer, doenças autoimunes, esclerose múltipla.
Nossa Biotec foi construída inicialmente para a produção de anticorpos monoclonais biossimilares, mas com a expectativa de ser uma plataforma para produção de medicamentos biotecnológicos. Ela dispõe de três linhas de produção dentro de uma única planta. Em uma delas, começamos a trabalhar com foco em transferência de tecnologia. Durante a construção contratamos e desenvolvemos recursos humanos altamente capacitados. A formação acadêmica nas áreas de Biologia e Biotecnologia no Brasil é de alta qualidade e, por isso, enquanto a planta estava sendo construída, contratamos pessoas que estavam saindo das universidades, como mestres e doutores que passaram a fazer treinamentos em diferentes países – nas plantas dos nossos parceiros de tecnologia e dos nossos fornecedores de equipamentos. Quando a planta ficou pronta, começamos a aplicar todo o conhecimento dos treinamentos em nossos processos. Ou seja, absorvemos tecnologia e treinamos recursos humanos durante a construção da planta.
Outra ação de extrema relevância e que foi conduzida paralelamente foi a condução de três estudos clínicos de biossimilares no Brasil. Esses estudos permitiram ampliarmos o acesso destes medicamentos aos pacientes participantes do estudo, gerarmos dados, publicações científicas, conhecimento e experiência clínica com os biossimilares. Fator que contribuiu para diminuir a barreira de entrada dos biossimilares no mercado brasileiro. Após o lançamento dos primeiros biossimilares, continuamos a realizar estudos clínicos e estudos de mundo real com o objetivo de acompanhar os pacientes após o tratamento com biossimilares. Nossas primeiras publicações dos resultados já começaram a sair.
Atualmente, além de manter o foco no desenvolvimento e lançamento de mais um biossimilar no Brasil – o Elovie (bevacizumabe) –, estamos adquirindo equipamentos para inaugurarmos uma planta piloto de Biotecnologia em 2024, com o objetivo de ser utilizada por nós para melhoria dos nossos processos por outras empresas. A planta piloto terá certificações e equipe técnica qualificada para produzir medicamentos biológicos em uma escala piloto para serem utilizados em estudos pré-clínicos e clínicos. Identificamos que é uma carência na América Latina ter plantas piloto de Biotec com qualificação e equipe técnica para prestar serviços para grandes empresas, startups e universidades.
Atualmente produzimos na nossa Biotec o Vivaxxia (rituximabe) e o Elovie (bevacizumabe). E lançamos o primeiro biossimilar de trastuzumabe, o Zedora, em 2018.
Com o avanço e detenção da tecnologia e do conhecimento tem surgido muitas alternativas terapêuticas à base de anticorpos monoclonais e não apenas para o tratamento de câncer, mas também de doenças autoimunes, redução de colesterol e várias outras doenças. É verdade que eles diminuem os efeitos adversos da quimioterapia, mas não só. Para as doenças autoimunes eles têm sido um avanço muito grande, pois interagem com a célula que está provocando a resposta imunológica exacerbada. No caso da redução de colesterol também acionam um mecanismo muito específico. A vantagem de termos no Brasil uma plataforma de produção industrial de anticorpos monoclonais é que ela não está focada apenas em medicamentos usados no tratamento de câncer. Cada vez mais novas indicações terapêuticas são aprovadas a base de anticorpos monoclonais.
Não ficaremos focados somente nos anticorpos monoclonais. Existem diferentes medicamentos biotecnológicos, como os tratamentos baseados em moléculas de RNA mensageiro, que ganharam maior visibilidade por causa das vacinas contra a Covid 19. Era uma tecnologia que ainda estava nas etapas de pesquisa, mas foi acelerada e rapidamente utilizada em escala industrial para combate a pandemia de Covid 19. Esse aprendizado abriu várias frentes de pesquisa para outros tratamentos imunológicos e vacinas. O RNA mensageiro, é um exemplo de outra tecnologia que pode ser utilizada na nossa Biotec. Em resumo: a Biotec oferece a possibilidade de ampliar o acesso, devido à queda dos preços pelo aumento da concorrência, a plataforma de produção de anticorpos monoclonais permite desenvolver diferentes medicamentos para atendimento de várias áreas terapêuticas, nossa planta tem a capacidade para utilizarmos outras tecnologias, como por exemplo o RNA mensageiro, nossos recursos humanos altamente qualificados e nossa planta piloto permitirão a prestação de serviços, em condições de Boas Práticas de Fabricação, para produção de lotes pilotos para estudos clínicos de novas moléculas biotecnológicas.
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