Em entrevista, o presidente científico da Biolab e também presidente do conselho do Grupo FarmaBrasil, Dante Alário, contou detalhes de como a educação colaborou para a expansão internacional do principal medicamento do laboratório brasileiro: o Vonau Flash, produto desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de São Paulo (USP). Lançado em 2005, hoje é exportado para Arábia Saudita, Colômbia, Equador, Guatemala, Peru e México e segue os requisitos do FDA (Federal Drug Administration), órgão governamental dos Estados Unidos.
O farmacêutico Dante percebeu a necessidade de um medicamento para náuseas e vômito que fosse dissolvido na boca, sem uso de água, já que pacientes com esse quadro não costumam tolerar ingestão de líquido. Procurou a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP para o desenvolvimento da formulação adequada. Trata-se de uma inovação incremental porque a versão original é administrada como um comprimido comum. “Sabíamos que tínhamos um bom produto, mas não tínhamos ideia de que seria esse enorme sucesso”, afirmou Dante Alario.
Além disso, o farmacêutico apontou caminhos para que universidades e indústria possam desenvolver mais projetos em conjunto, com o objetivo de aumentar a oferta de produtos com inovação incremental no mercado farmacêutico.
– Como as universidades brasileiras podem contribuir para o avanço das inovações incrementais do setor farmacêutico?
Atualmente, temos universidades que fazem um belo trabalho de pesquisa incremental em medicamentos, mas não é a maioria; podemos avançar muito mais. Temos pesquisadores competentes, sérios, que poderiam trabalhar em conjunto com as empresas para chegar a um volume bastante interessante de inovações incrementais. Dentro das instituições universitárias já foram desenvolvidas algumas plataformas tecnológicas e isso precisa ser mais divulgado para a indústria. Para melhorar a parceria entre educação e setor farmacêutico, seria interessante criar um canal de comunicação para que as empresas tomassem conhecimento da estrutura dos laboratórios das universidades. As empresas conseguiriam mapear o que cada instituição tem e poderiam identificar qual está mais alinhada com seus projetos. Se a informação dessa estrutura fosse mais acessível, eu diria que isso já aumentaria consideravelmente o número de produtos inovadores que o paciente poderia ter.
Outro ponto para fortalecer essa parceria é o maior investimento do governo na estrutura de pesquisa dentro das universidades. As instituições precisam ter o mínimo de equipamentos para que a execução dos projetos seja possível. Há órgãos que já são tripartite, ou seja, a indústria entra com o conhecimento de mercado, a universidade entra com os pesquisadores e o governo entra para subsidiar a estrutura e também capital. Isso acontece em vários países e vemos bons resultados.
– Em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), a Biolab desenvolveu o Vonau Flash, um medicamento para enjoo que é considerado uma inovação incremental. Como foi esse processo de desenvolvimento e quais os resultados desse medicamento no mercado?
A versão Flash designa que ele tem rápida dissolução oral. Muitas vezes, quando o paciente está com enjoo, está vomitando, tem mal-estar, não tolera a ingestão de água. A absorção do Vonau Flash sublingual dispensa a administração conjunta de qualquer líquido. Nós percebemos essa necessidade de mercado, mas tínhamos muitos projetos em andamento na nossa área de Pesquisa Desenvolvimento e Inovação Individual (PDI), então procuramos a Faculdade de Farmácia da USP para propor o desenvolvimento em conjunto.
Vonau Flash é um produto que deu certo. A faculdade estudou as possibilidades e verificou que era possível ter a patente sem ferir nenhuma outra existente. Acertamos um cronograma com as etapas do processo e trabalhamos em conjunto enquanto fazíamos as adequações para a indústria para que fosse possível chegar ao resultado final. O Vonau Flash foi lançado para os médicos e mercado, com essa indicação e foi ele que nos possibilitou sair do Brasil. Após a finalização do projeto, nós já pagamos mais de 15 milhões de royalties para a Universidade de São Paulo.
– No mês passado, a imprensa divulgou que a Biolab obteve registro do Vonau Flash na Arábia Saudita. Como está essa expansão internacional do laboratório?
Fala-se muito em internacionalizar as indústrias, mas só é possível se você tiver algo que lá fora ninguém tenha e esse é o caso de Vonau Flash. Há anos, começamos a vender para a Arábia Saudita por licitação governamental, enquanto preparávamos o registro do produto. Tivemos que fazer a adequação do dossiê do Vonau para a Arábia Saudita e para todos aqueles países próximos. A Arábia Saudita segue o FDA (Federal Drug Administration), que é um o órgão governamental dos Estados Unidos, então as regras não são iguais às daqui. O nosso produto não tinha sido desenvolvido para sair do Brasil. Incialmente, o desenvolvimento obedeceu a nossa legislação. Mas o sucesso foi tão grande que tivemos que fazer a adequação para esse padrão internacional.
Lá fora aconteceu o mesmo que no Brasil. Em um ano, passamos a ser primeiro em vendas para náuseas e vômitos desses países. A Biolab, antes do Flash, exportava, mas em quantidades pequenas, absolutamente incipientes porque tínhamos o que todo mundo tem. Com a inovação isso, mudou. Vonau Flash tornou-se o carro-chefe que sempre abre portas. Mudou completamente a forma de exportar.
Nós, quando desenvolvemos o Vonau Flash, sabíamos que ia ter aceitação, mas nós não tínhamos ideia que em pouco tempo se tornaria o primeiro produto de sua classe terapêutica, quando já existiam marcas tradicionais, que até hoje permanecem no mercado, mas que ficaram muito distantes de nós. Sabíamos que tínhamos um bom produto, mas não tínhamos ideia de que seria todo esse sucesso. Além da Arábia Saudita e países próximos, exportamos para Colômbia, Equador, Guatemala, Peru e México.
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