01/02/2019 – 05:00
Por Assis Moreira
O presidente mundial do grupo farmacêutico suíço Roche, Severin Schwan, acena com aumento de investimentos no Brasil, dependendo da evolução de vendas de medicamentos inovadores para uso por pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).
Indagado pelo Valor sobre a expectativa em relação ao novo governo em Brasília, Schwan respondeu que o foco de Roche é trabalhar com as novas autoridades para tornar seus medicamentos mais acessíveis para os pacientes no país. Segundo o executivo, nos últimos anos houve muito progresso no acesso a novos remédios no país, como na terapia contra o câncer.
“Eu vejo bem aumentar nossos investimentos no Brasil à medida que o acesso à medicamentos no Brasil melhorar, pois se temos mais pacientes para atender no país vamos precisar de mais infraestrutura para apoiar essa demanda”, afirmou. “Se vemos mais progresso no Brasil, isso também desencadeia novos investimentos da nossa empresa”.
O novo CEO da Roche Farma, Bill Anderson, acrescentou que a companhia continuará a ser “flexível e adaptável” no Brasil em termos de preços, ao mesmo tempo em que procura assegurar um “justo retorno inclusive para investir em produção e testes clínicos”.
Patrick Eckert, presidente da Roche Farma Brasil, informou que nas últimas negociações realizadas para o Herceptin no Brasil – terapia ainda considerada chave contra o câncer de mama – o desconto foi de 71%, o maior feito pela companhia no mundo. Ele informa que os tratamentos inovadores alcançaram em 2018 mais de 206 mil pacientes no Brasil.
Maior companhia biotech do mundo, Roche anunciou ontem lucro líquido global em alta de 24% em 2018, alcançando 10,8 bilhões de francos suíços (equivalente a R$ 40,3 bilhões). A redução de impostos fixada por Donald Trump nos EUA proporcionou ganho de US$ 2,4 bilhões.
O faturamento global aumentou 7% para 56,8 bilhões de francos suíços (R$ 212,1 bilhões). Cerca de 90% do crescimento veio de novos produtos lançados, mais que compensando o impacto da entrada de biosimilares no mercado. Novos medicamentos geraram 3,2 bilhões de francos suíços (R$ 11,9 bilhões), comparado a perda com a concorrência de biosimilares de 1,199 bilhão de francos suíços (R$ 4,2 bilhões).
Novos lançamentos compensaram impacto na receita global do grupo com entrada de biosimilares no mercado
No Brasil, o faturamento da Roche Farmacêutica foi de R$ 3,4 bilhões, ou 10% de crescimento em relação a 2017. Desse montante, 32% veio do setor público e 68% do privado, o que ilustra o potencial ainda de crescimento que pode ocorrer. A companhia enfrentou em 2018 no mercado brasileiro a concorrência do biossimilar de Herceptin (câncer de mama) e em 2019 a previsão é da chegada de um biossimilar para Mabthera.
A diferença é que os biosimilares têm preço 50% menor na Europa e em outros mercados de -30%, enquanto no Brasil o custo é quase igual ao original, segundo executivo da Roche. A divisão Roche Diagnóstica cresceu 7,6% em 2018 no país, com faturamento de R$ 639,1 milhões no país.
Conforme Eckert, em 2018 a Roche deu continuidade ao estabelecimento da PDP-Parceria de Desenvolvimento Produtivo com o Ministério da Saúde, para a transferência de tecnologia para produção de Herceptin trastuzumabe (Câncer de mama inicial e metastático) ao Brasil. A companhia espera os próximos passos do Tribunal de Contas da União (TCU), que congelou cerca de 90 acordos de transferência de tecnologia, para fazer um pente-fino e saber o que está funcionando, o que não deu certo etc.
Em Basileia, Bill Anderson destacou que discussões internas estão em andamento sobre as operações no Brasil, “definitivamente um país prioritário para a Roche, como poucos no mundo. Está no topo de nossa lista”.
Eckert está na presidência no Brasil desde setembro, quando a afiliada brasileira passou a responder diretamente à matriz em Basileia na Suíça, em um grupo de 8 países-chave (Alemanha, Canadá, China, Espanha, França, Inglaterra Itália e Brasil), algo que a empresa denomina I8. Não reporta mais para à presidência da Latam. Esse reporte global garantirá mais agilidade e rapidez na tomada de decisões locais, segundo ele.
A Roche Farma Brasil informa que investiu R$ 188 milhões em 2018, trazendo novos estudos para o Brasil e com isso gerando mais acesso aos pacientes. Deste montante, 73% do investimento estão relacionados à pesquisa de medicamentos biológicos de alta complexidade. Em 2018, a companhia fez 65 estudos no país, para doenças como Alzheimer, esclerose múltipla, vários tipos de câncer, doenças degenerativas nos olhos, entre outras. Mais nove estudos começaram em 2019. Nos últimos 3 anos foram R$ 430 milhões investidos em pesquisa no país.
A companhia destaca também os resultados da Foundation Medicine (FMI), adquirida há dois anos pela Roche, empresa especializada em análise genômica. Em 2018, a FMI teve crescimento 97,4%. Seu portfólio conta hoje com três testes genômicos de ponta e o interesse da comunidade médica aumenta a cada dia – foram comercializados cerca de 1.500 testes no ano de 2018.
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