Texto de Cláudia Pinto
Longe vão os tempos das mezinhas e dos boticários que produziam misturas nas porções exatas para alívio de sintomas. As farmácias continuam a ser locais próximos das comunidades como antigamente, mas apresentam alguns serviços de valor acrescentado à disposição dos clientes.
Na Farmácia Central do Cacém (FCC), existem três gabinetes de consulta onde os utentes são distribuídos consoante as necessidades. Tanto nesta, como na Farmácia Coelho, em Braga, é possível realizar testes rápidos para avaliação da saúde, como a medição da pressão arterial, o peso, perímetro abdominal e o índice de massa corporal ou testes bioquímicos ao colesterol total, colesterol LDL e colesterol HDL (mau e bom colesterol), triglicerídeos, glicemia, hemoglobina e ácido úrico. É ainda possível fazer testes de gravidez e pedir auxílio dos farmacêuticos para a administração de medicamentos, vacinas e injetáveis.
Em ambas as farmácias, a consulta de nutrição é uma realidade ao dispor dos utentes – na farmácia de Braga, é ainda disponibilizada uma consulta de nutrição desportiva.
De acordo com um estudo do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, dois em cada três portugueses considera provável vir a utilizar novos serviços relacionados com cuidados de saúde que as farmácias venham a disponibilizar. “As farmácias evoluíram muito na prestação de serviços e tornaram-se importantes espaços de saúde reconhecidos pela população”, defende Silvia Rodrigues, diretora da Associação Nacional das Farmácias (ANF).
Na FCC, aquando da dispensa de medicação, são colocadas etiquetas impressas com o nome do utente, a posologia e uma frase de segurança adaptada à faixa etária e ao historial clínico. Em complemento, é enviado um SMS com a indicação de como se deve tomar corretamente determinada medicação.
“Enviamos ainda por e-mail, não só a posologia, mas também folhetos com informação suplementar e útil ao caso particular do utente”, explica o diretor técnico Luís Lourenço.
Uma das grandes preocupações da equipa desta farmácia, que também faz entregas ao domicílio, é a adequada adesão à terapêutica, estando muitos serviços delineados com esse intuito. “Fazemos um follow-up telefónico após oito dias da primeira dispensa de medicação para situações crónicas, um mês depois e passados três meses.”
Neste momento, a farmácia está a montar um serviço de acompanhamento a doentes asmáticos ou com doença pulmonar obstrutiva crónica para ajudar os utentes a usar os dispositivos inalatórios. “Fizemos um estudo com um dos nossos estagiários em que acompanhámos a técnica de inalação de alguns utentes e percebemos que a esmagadora maioria não o executava corretamente”, afirma o diretor técnico.
Com o objetivo de levar os utentes a ter a situação clínica controlada, a farmácia dispõe do serviço de acompanhamento farmacoterapêutico destinado a todos os utentes que se suspeitem estar descompensados e que inclui não só a análise mais detalhada da situação por parte de um farmacêutico, mas também a realização de exames bioquímicos. “Os valores destes testes podem indicar um padrão de descompensação de algum parâmetro clínico. Se temos valores de glicemia muito elevados em jejum, em várias medições, para a faixa etária e contexto do utente, fazemos uma referenciação ao médico.”
Dividido em três fases, o utente é convidado para uma primeira visita para realizar os referidos testes e apresentar todos os medicamentos e outros produtos que consome em casa (suplementos à base de plantas caseiras, produtos comprados pela internet e outros).
Entre a primeira e a segunda visita é feita uma avaliação de toda a informação recolhida sugerindo-se depois alguma ação para melhorar o estado do utente (por exemplo, relembrar as horas de toma do medicamento, explicar como se utiliza o dispositivo para a asma, etc.). Na terceira visita é avaliado o impacto da ação do farmacêutico e certifica-se que o que foi proposto fará parte da rotina do utente.
Sempre que se supõe ser necessário ajustar a medicação, e se se verificar que uma situação não se consegue controlar, é feita a sugestão de consulta ao médico assistente. Daqui resultou um estudo (a FCC tem uma unidade de investigação) que veio a confirmar “uma melhoria significativa dos parâmetros clínicos dos utentes, por um lado, e uma ajuda aos prescritores que ficam a saber que os seus doentes estão controlados entre visitas médicas, por outro”, foca Luís Lourenço.
As farmácias estão cada vez mais integradas no Serviço Nacional de Saúde. “Os farmacêuticos promovem a cooperação interprofissional com os diferentes profissionais de saúde, nomeadamente com médicos dos centros de saúde ou hospitais”, defende a diretora da ANF. Da mesma forma, as novas tecnologias permitem chegar aos utentes e promover a literacia em saúde. As páginas de Facebook destas farmácias acompanham os tempos e veiculam informação fidedigna através de dicas úteis.
Implementado há quatro anos na Farmácia Coelho, o teste “Streptococcus A” (Strep A), permite saber se a origem de uma dor de garganta é vírica ou bacteriana. “A nossa farmácia é a pioneira na disponibilização desse exame e julgamos ser a única a fazê-lo”, revela a diretora técnica Catarina Machado.
Se um utente se dirige à farmácia com dores de garganta, sugere-se a realização do teste e, consoante o resultado que é obtido em cinco minutos, é feito o acompanhamento necessário – farmacológico ou não – ou a devida referenciação para consulta médica. Realizado por pessoal qualificado, dirige-se a qualquer utente e tem particular importância na idade pediátrica, uma vez que a amigdalite aguda é muito frequente em crianças.
Apesar de este teste apresentar alguma sazonalidade, sendo a sua realização mais frequente no inverno ou no começo da primavera, a farmácia realiza cerca de 30 testes por mês. Existem clientes a solicitá-lo por sua iniciativa, outros chegam através de prescrição médica e em alguns casos são os farmacêuticos que o sugerem consoante as queixas dos utentes.
“Existe uma grande aceitação por parte da população. Constatámos que 80% dos resultados são negativos, correspondem a infeções víricas, e somente as restantes são bacterianas”, explica a diretora técnica. Isto significa que a maioria tem resolução sem prescrição de antibióticos.
“Se não tomarmos medidas para controlar o consumo de antibióticos, a Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê que, em 2050, haverá mais mortes provocadas pela resistência aos antibióticos do que por cancro”, alerta Catarina Machado.
A preocupação lançada pela OCDE é particularmente relevante nas crianças “cujos órgãos estão em formação e o uso de antibióticos pode condicionar o desenvolvimento no futuro”, conclui.
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