Fonte: IstoÉ Dinheiro 10 de agosto de 2012 Por Guilherme QUEIROZ
Maior greve dos servidores públicos dos últimos anos trava circulação de mercadorias e a indústria começa a desligar linhas de produção.
Primeiro foram as manifestações à porta dos ministérios, em Brasília, que começaram há 50 dias, um incômodo que ainda estava restrito à rotina da capital. Mas, com 36 categorias do funcionalismo em greve e 350 mil servidores da União de braços cruzados, a maior paralisação dos últimos cinco anos já começa a contaminar a atividade econômica no País. Na semana passada, a operação tartaruga dos auditores da Receita Federal, combinada com a paradeira dos fiscais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, acendeu a luz amarela na indústria. Filas de centenas de caminhões se formavam nos principais postos de fronteira, à espera da liberação de cargas. Também na costa brasileira dezenas de navios permaneciam ancorados, aguardando autorização para atracar e descarregar mercadorias nos portos.
Sem ter como escoar produtos para o Exterior, ou importar insumos para suas fábricas, alguns setores da indústria avisaram o governo que linhas de produção já estão deixando de funcionar. E que a situação se agravará, se a greve se intensificar. Ainda não existe um balanço oficial dos prejuízos em decorrência das paralisações, mas não é difícil encontrar relatos de quem está enfrentando a dificuldade de liberar materiais nas alfândegas. “Vamos entrar numa situação muito crítica, em breve, com risco de desabastecimento de remédios importados e de alta complexidade”, afirma Antônio Britto, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Na quarta-feira 8, as empresas do setor contabilizavam mais de 700 lotes de insumos parados nos aeroportos paulistas de Viracopos, em Campinas, e de Cumbica, em Guarulhos, os mais movimentados terminais de carga do País.
No polo industrial da Zona Franca de Manaus, a Panasonic e a TP Vision, responsável pela manufatura dos aparelhos eletrônicos da holandesa Philips, paralisaram a produção por falta de insumos e concederam licença remunerada a seus empregados. Até o fim da semana passada, 12 empresas planejavam interromper suas linhas à espera de novas cargas, de acordo com o Centro da Indústria do Amazonas (Cieam). “Estamos preocupados em não conseguir atender ao comércio para o Dia das Crianças e para o Natal”, diz Wilson Périco, presidente do Cieam. Sem conseguir autorização para o abate de animais ou para o transporte de alimentos, os frigoríficos do País também alertaram o governo sobre o risco de faltar carnes bovina, suína e de aves nos supermercados.
“Podemos ter uma redução grande nas atividades, e até interrupção do trabalho nas plantas focadas na exportação”, diz Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). O Ministério do Desenvolvimento (Mdic) admite que os problemas em portos e aeroportos devem se refletir na balança comercial deste mês, embora não consiga quantificar esse impacto. “É difícil precisar, porque há também a desaceleração do comércio com alguns mercados”, diz Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior, do ministério. Mas nos cálculos da Ubabef, os embarques de frango caíram 15% por conta das paralisações. Para mitigar os efeitos das greves na economia, o governo tem recorrido a um arsenal de medidas.
Um decreto do fim de julho permitiu a substituição de servidores federais por estaduais com atribuições semelhantes. Até a quinta-feira 9, a Anvisa já havia firmado convênios com oito Estados. As licenças para que navios atracassem também passaram a ser emitidas diretamente na sede da agência, em Brasília, e não mais nas regionais portuárias. “Este não é um momento de comprometer a exportação e a importação de insumos”, afirma Dirceu Barbano, presidente da Anvisa. A indústria, porém, não acredita numa solução rápida para a situação. O Ministério do Planejamento está fechando as contas e terá reuniões com os grevistas durante toda a semana. De concreto, apenas o fato de que não haverá reajustes para todos. Ou seja, o horizonte continua incerto para a economia.