21/02/2019 – Revista Visão Saúde |
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O aumento de custos de saúde é persistente e se dá a taxas superiores à inflação em muitos países, embora no Brasil isso exceda a média mundial. O crescimento acumulado nos últimos dez anos é quatro vezes maior que o da inflação. Esse cenário tem mobilizado gestores de saúde e de benefícios de empresas no sentido de incrementar a eficiência e a efetividade dos investimentos corporativos em saúde do trabalhador e seus familiares. O tema é particularmente importante para a indústria, que é a principal contratante de planos de saúde no Brasil, financiando 29% dos planos coletivos empresariais que dão cobertura a dez milhões de beneficiários. O custo da fragmentação e reatividade do sistema não se restringe ao aumento dos custos diretos de saúde, mas tem grande impacto na produtividade do trabalhador, no sistema previdenciário e na competitividade das empresas. Trabalhadores que ficam perdidos na rede de saúde, migrando de médico em médico e fazendo hiperuso de procedimentos desnecessários, podem demorar anos para ter o adequado diagnóstico e tratamento. Esse processo descoordenado permite que o trabalhador adoeça gravemente, perdendo funcionalidades que não precisaria perder, fazendo-o afastar-se do trabalho inúmeras vezes e de forma prolongada, incapacitando-o precocemente. O Brasil convive anualmente com 2,5 milhões de benefícios por incapacidade temporária e 375 mil novos benefícios por incapacidade permanente. É imperativo o aperfeiçoamento da gestão da saúde corporativa e de suas relações com as operadoras e prestadores, visando ao incremento na qualidade e nos resultados dos planos contratados. A Confederação Nacional da Indústria CNI criou, com o apoio técnico do Serviço Social da Indústria SESI, o Grupo de Trabalho da Indústria sobre Saúde Suplementar GTSS, composto de 61 empresas que representam mais de 2 milhões de beneficiários de planos de saúde em cerca de 250 planos médico hospitalares. As expectativas de quem contrata planos referem-se a um modelo de gestão contemporâneo baseado no alcance da saúde populacional enquanto grupo de pessoas afiliadas a um sistema de atenção à saúde que deve receber cuidados seguros, efetivos, oportunos, centrados nas pessoas e equitativos, além providos a custos eficientes. Com o propósito de melhorar a gestão da saúde, grandes empresas têm contratado inúmeros produtos complementares como: gestão de crônicos, 2ª opinião, atendimento 24h por telefone, gestão de hiperutilizadores, auditorias, atenção primária à saúde, etc. Referidas intervenções têm trazido resultados positivos, entre eles a redução de consultas em pronto socorro e aumento das eletivas; engajamento de crônicos a tratamentos e de gestantes ao de pré-natal; redução de cirurgias desnecessárias. Elas configuram-se como um esforço continuado de remediar um sistema focado na doença e não na saúde e não promovem mudanças que façam o sistema transitar da remuneração por procedimentos para a remuneração por valor; da relação entre cliente e fornecedores para uma relação de parceria e corresponsabilidades. Por esse motivo o GTSS definiu uma agenda prioritária e integrada com seis temas que será desdobrada em estudos, projetos pilotos, sistemas de compartilhamento de dados e posicionamentos para defesa de interesses: (1) a Gestão de Tecnologias de Saúde, no qual operadoras podem referenciar prestadores que adotam práticas de avaliação de tecnologias de saúde ATS e coordenar parcerias para geração de protocolos e monitoramentos de vida real; (2) a Remuneração Baseada em Valor RBV que será alvo, em 2019, de projetos pilotos nas indústrias com oito hospitais de forma articulada com operadoras; (3) a Atenção Primária à Saúde APS, entendida como propulsora das mudanças, mas cuja eficiência e efetividade dependem de uma estrutura em rede, alcançando os níveis secundário e terciário e de sistema de compartilhamento e monitoramento permanentes de dados; (4) os mecanismos de regulação como coparticipação e franquia, entendidos como mecanismos de apoio à gestão da saúde, requerem que operadoras ofereçam mais transparência nas formulações de preços, de modo que reflitam exatamente os impactos de tais medidas e permitam ao usuário ser informado dos valores que lhe serão cobrados por procedimento; (5) as Contratações Baseadas em Valor, que compreendem o compartilhamento, entre contratantes, de boas práticas na negociação com planos de saúde e com prestadores; (6) a base de dados padronizados e interoperáveis com otimização dos canais de comunicação formais entre operadoras, empresas contratantes e usuários, gerando maior transparência, autonomia e agilidade no sistema. A agenda do contratante guarda muitos pontos sinérgicos com a agenda das operadoras de saúde e baseia-se em requisitos configurados em meta tríplice (triple aim), qual seja: (a) melhoria da saúde da população sob sua responsabilidade; (b) a melhoria da experiência das pessoas com os cuidados recebidos, além de (c) redução ou controle do gasto. |
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