Por Jonathan D. Rockoff e Pui-Wing Tam | The Wall Street Journal
As firmas de biotecnologia estão começando a perceber uma dura realidade: a época das vacas gordas acabou.
Essas pequenas e inovadoras empresas farmacêuticas já foram o xodó dos investidores, conseguindo captar milhões de dólares em capital de risco e mais ainda depois, com aberturas de capital. Mas nos últimos anos, esse tipo de financiamento para a biotecnologia está em declínio, devido ao ambiente econômico difícil e aos baixos retornos para as ofertas de ações.
Investidores de risco aplicaram um total de US$ 3,92 bilhões no ano passado em firmas de biotecnologia em todos os estágios de desenvolvimento - bem abaixo do pico de US$ 6,17 bilhões em 2007, de acordo com a VentureSource. E as ações das firmas de biotecnologia que abriram o capital no ano passado conseguiram, em média, 29% menos do que a mediana das espectativas de cotação, segundo o banco de investimento Needham&Co. Alguns investidores de risco pararam completamente de financiar novas firmas de biotecnologia.
Em paralelo, grandes laboratórios farmacêuticos, cujos acordos com as firmas de biotecnologia são outra grande fonte de financiamento, estão exigindo mais delas para fechar negócios, vinculando, cada vez mais, seus investimentos a provas concretas de sucesso.
Para as firmas de biotecnologia que procuram levantar dinheiro, a situação é complicada, diz David Pompliano, diretor-presidente da firma de biotecnologia BioLeap, que tem feito reuniões com investidores de risco, tanto pessoas físicas como fundos empresariais, para suplementar os US$ 5 milhões que captou há dois anos. "O ambiente está difícil."
Como resultado, as firmas de biotecnologia estão apertando os cintos e se esforçando para conseguir, com criatividade, outras fontes de financiamento. Algumas estão contratando menos cientistas e terceirizando certas tarefas, tais como sintetizar substâncias com bom potencial farmacêutico. Algumas fecharam as portas por falta de fundos, enquanto outras procuram patrocinadores ricos no exterior, fundos de laboratórios farmacêuticos para novas iniciativas, ou ajuda de fundações privadas, segundo pessoas do setor.
Mas alguns avanços promissores podem acabar inexplorados se as novas firmas de biotecnologia não encontrarem maneiras de obter capital inicial. "Há muita discussão por aí: qual é o novo paradigma, ou será que vamos ver a indústria da biotecnologia definhar?", diz Kevin Collins, advogado da Jenner&Block, que trabalha no setor.
Sem dúvida ainda há dinheiro disponível para algumas ideias, e os valores de financiamento têm subido recentemente. No ano passado, o total de US$ 4,7 bilhões em capital de risco e outras fontes investidos em empresas de biotecnologia de capital fechado foi o maior desde os US$ 5,4 bilhões de 2007, segundo um relatório da MoneyTree elaborado pela PricewaterhouseCoopers e a Associação Nacional de Capital de Risco, dos EUA.
Mas o investimento não voltou aos altos níveis de antes da recessão, e há menos negócios sendo realizados, em especial com firmas novas. No ano passado, 98 firmas de biotecnologia receberam capital de risco pela primeira vez, ante 141 em 2007, diz o relatório da MoneyTree. Elas captaram um total de US$ 842 milhões em financiamento inicial em 2011, 19% menos que em 2007.
"A mentalidade de bolha, em que todas as boas ideias recebem financiamento, já acabou", disse Elias Zerhouni, que estudou o financiamento do setor para a Organização da Indústria de Biotecnologia, grupo setorial dos EUA, e agora é chefe de pesquisa e desenvolvimento do laboratório francês Sanofi SA.
A crise econômica atingiu os investidores de risco, que passaram a hesitar antes de aplicar seu capital, cada vez mais escasso, em firmas de biotecnologia caras e arriscadas - tais como a ARYxTherapeutics Inc., de Fremont, na Califórnia, que fechou as portas no ano passado, depois que a FDA, a agência americana que regulamenta os alimentos e medicamentos, adiou a orientação que deveria dar para o desenvolvimento de uma droga para doenças gastrointestinais.
Em contraste, as novas firmas de internet demonstraram ser mais lucrativas, mais baratas para financiar, e menos dependentes de uma fiscalização imprevisível dos órgãos reguladores, dizem os investidores de risco.
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